

História


A Duna Boa Vista, mais conhecida como Duna Preta, é um sítio arqueológico do tipo sambaqui que apresenta indícios de ter sido um acampamento de pesca e coleta de moluscos. Faz parte do Patrimônio Histórico e Cultural e é tombado pelo IPHAN.
- Esquerda: sítio antes do cercamento (https://www.folhadoslagos.com/geral/duna-boa-vista-na-praia-do-forte-recebe-cerca-de-protecao-nesta/15079/)
- Direita: cercamento para proteção do sítio (https://fontecerta.com/agentes-do-meio-ambiente-de-cabo-frio-fazem-cercamento-da-duna-preta-na-praia-do-forte/)
Ótimo climático e mudanças culturais
O Ótimo Climático foi um período de equilíbrio no clima da Terra, nem muito quente, nem muito frio, que ocorreu há cerca de 6.000 anos AP (antes do presente). Nesse clima favorável à biodiversidade e à vida, grandes mudanças culturais estariam em curso na Amazônia.
Clima favorável significa ficar e curtir mais o lugar, em vez de viver correndo atrás de abrigo e comida, por assim dizer. Lá pelos anos 4.000 A.P começa a ocorrer uma mudança de costumes nas populações caçadoras-coletoras (ou pescadoras-coletoras no litoral): passam a se tornar mais sedentárias e domesticar animais e plantas, tornando-se agricultoras. Aparece, então, a cerâmica, tanto na Amazônia quanto no litoral. Se antes utilizavam instrumentos feitos de pedras, conchas e ossos, agora passam a usar panelas, facas de pedra e moedores, além de urnas funerárias feitas de barro queimado.
Essa ebulição cultural faz com que a sociedade na época experimente a explosão demográfica. Com grandes aldeias surgindo na Amazônia, no Brasil Central e no Pantanal, há mais ou menos 2.000 anos AP, os grupos tribais sentiram a necessidade de se deslocar.

Enterramento localizado no Sítio do Caju, Campos/RJ.
Ceramistas: a Tradição Una
Por essa época começa a aparecer a cerâmica também aqui na nossa região. Ela estaria associada à comunidades agricultoras da Tradição Una, presentes no vale do rio São Francisco, mais especificamente na área cárstica atualmente pertencente ao Estado de Minas Gerais. O rio Paraíba do Sul teria servido, de início, como uma barreira natural aos caçadores-coletores primitivos, porém, posteriormente, serviu como rota migratória para que os ceramistas ocupassem o território fluminense, compondo um segundo estágio de ocupação. Estes grupos teriam subido o curso do rio São Francisco e do rio Grande até alcançarem as cabeceiras da Serra do Mar. Neste ponto, teriam descido sua vertente Atlântica, concentrando-se nas beiras dos rios Una e São João.
Segundo Dias Jr. (1976/77)*2, a tradição Una no Rio de Janeiro está dividida em duas fases: a fase Mucuri localiza-se na região norte do Estado, no baixo e médio Paraíba do Sul e na região serrana. Esta fase parece não ter desenvolvido sua economia com base na exploração dos recursos marinhos, ficando no contato entre a planície litorânea e a encosta da Serra do Mar. Provavelmente pela mesma época, outros grupos, da fase Una, ocupavam áreas localizadas mais para o litoral, inclusive, locais anteriormente habitados pelos grupos sambaquieiros.

Pesos de rede de cerâmica encontrados no Sítio Grande do Una, Cabo Frio, RJ (foto: E.Pinheiro).
Contato entre os povos do interior e do litoral
As pesquisas da arqueóloga Jeanne Cordeiro na região sugerem que, num primeiro momento, houve uma relação de troca entre os sambaquieiros da costa e os ceramistas do interior. Porém, por serem mais numerosos e possuidores de tecnologia superior acabaram por colonizar o litoral, desestruturando o sistema social dos antigos povos dos sambaquis.
Alguns autores dizem que a chegada dos ceramistas Una não implicou em nenhuma mudança na economia regional litorânea. Dizem também que o contato entre os ceramistas, os sambaquieiros e os tupinambás litorâneos da Tradição Tupi-Guarani (Fase Itaipu) teria sido pacífico. Porém, para outros pesquisadores, há registros, em grande parte das ossadas humanas encontradas, com sinais de violência. Para eles, a convivência pacífica entre estes grupos é improvável pois, em primeiro lugar, o território dos sambaquieiros foi, literalmente, invadido e, em segundo lugar, a sociedade Tupinambá tinha em sua essência a guerra e/ou a disputa corporal, muito diferente dos habitantes primitivos da costa.
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